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Lição #15 — Autodisrupção: o desafio de não parar no que funciona hoje

Num mundo imprevisível, o maior risco não é errar: é parar no que já funciona.Esta lição mostra por que inovar continuamente — em empresas e em nós mesmos — é a única forma de seguir relevante.Tempo de leitura: 9 minutos

Olá, meu nome é Clara e, por algumas reviravoltas inesperadas do destino, hoje eu sou professora de estratégias de negócios, marketing e empreendedorismo para alunos do ensino médio.

É engraçado olhar para trás e pensar que eu tinha tudo para chegar até aqui desde cedo, mas acabei seguindo um caminho um pouco não convencional.

Nesta newsletter, eu vou dividir com vocês o que eu venho aprendendo sobre negócios para poder ensinar os meus alunos de uma forma que traga interesse e aprendizado real.

Neste momento da minha vida, o meu interesse por empreendedorismo não vem de uma vontade pessoal de me tornar CEO da minha própria empresa, mas sim de uma curiosidade em compreender conceitos e mudanças de mercado para poder ensinar algo realmente relevante para meus alunos.

🙋‍♀️ Presente?

Lição #15 — Autodisrupção: o desafio de não parar no que funciona hoje

Vivemos numa cultura da imprevisibilidade. O futuro não é uma linha reta — é cheio de curvas inesperadas. Quem poderia imaginar que a Kodak, gigante de 140 anos, estaria fechando as portas em 2025?

E nem os “profetas” acertam sempre. No evento SXSW deste ano em Austin, no Texas, o professor Scott Galloway abriu sua palestra Previsões: 2025 admitindo que boa parte do que previu antes estava errado. Um choque, mas também um lembrete: o futuro não segue roteiro.

Como então falar de inovação e empreendedorismo num mundo em que a novidade de hoje pode se tornar irrelevante amanhã?

📷️ Um exemplo de quem sentiu isso na pele 

A Kodak apareceu em todas as redes de notícias esta semana falando sobre sua possível falência. A empresa que dominou a fotografia por mais de um século agora é lembrada como exemplo do que acontece quando a uma empresa não se renova.

Mesmo tendo desenvolvido a tecnologia da fotografia digital, a Kodak não investiu nela para proteger seu produto mais rentável: o filme. Só que os consumidores nunca quiseram filmes — eles queriam fotos. Outras empresas entenderam isso e seguiram em frente. Hoje, ver a Kodak nesta situação reforça o alerta: nem gigantes centenários estão a salvo da estagnação.

O dilema do inovador

O movimento constante de se reinventar conecta com a teoria do Dilema do Inovador, criada pelo professor Clayton Christensen.
Segundo ele, neste vídeo, existem três tipos de inovação:

Adaptado de Clayton Christensen, The Innovator’s Dilemma (1997).

  • Disruptivas: cria um mercado novo, muda as regras do jogo. Foi o que a Kodak fez há 140 anos, ao tornar a fotografia acessível às massas.

  • De sustentação: melhora o que já existe, agregando valor. A Kodak fez isto ao longo do tempo, com câmeras cada vez mais sofisticadas e serviços melhores.

  • De eficiência: torna os processos mais baratos e rápidos. A Kodak chegou neste estágio quando refinou a produção e padronizou máquinas, e diminuiu o custo de produção.

O problema é que muitas empresas param na eficiência. Principalmente porque é mais fácil, mais barato e gasta-se menos tempo. Só que o mundo não para. E, quando não se arriscam no novo, ficam vulneráveis. E paramos de nos reinventar. 

O empreendedor não pode se dar ao luxo de parar na eficiência. Porque, se a empresa fica presa ao que já funciona, logo outra chega com algo novo e ocupa o espaço. Inovar é arriscado, sim. Mas o risco maior é não se reinventar.

É por isso que vemos empresas que continuam relevantes justamente porque se permitem esse movimento de autodisrupção: criam algo novo, melhoram, otimizam — e depois têm coragem de quebrar o próprio modelo para abrir outro ciclo.

Quem conseguiu se autodisruptir

A Ambev entendeu cedo que não bastava estar no bar ou no supermercado. Criou o Zé Delivery, um aplicativo que começou como disrupção (bebida gelada em casa, em poucos cliques). Depois sustentou a experiência, ampliando produtos, regiões e promoções. Hoje, já opera em escala, com eficiência logística e dados que retroalimentam o negócio. O segredo foi não se contentar com a eficiência — foi criar algo novo dentro do que parecia já consolidado.

Uma das melhores reinvenções que vi recentemente foi a da Philips com o projeto Fixables. Em vez de só vender peças de reposição para a linha OneBlade de barbeadores, lançou arquivos digitais para impressão 3D de acessórios. O consumidor imprime em casa, gasta menos e ainda gera menos lixo. Isto não só melhora a relação com o cliente, mas cria uma nova lógica de negócio — menos dependente da venda contínua de peças físicas.

📰 E a Capricho que voltou para as bancas? Fui na palestra da editora-chefe Andréa Martinelli no HackTown, evento de inovação em Santa Rita do Sapucaí, que contou um pouco mais sobre esse caso. Ela disse que quando as vendas caíram, a revista migrou para o digital e reconstruiu sua audiência online. Só depois, já fortalecida e com um novo mote editorial — “Manifeste, desobedeça, seja você” — voltou às bancas. Não foi nostalgia, mas estratégia: revisitar o impresso sob outro olhar. Disrupção, neste caso, não foi abandonar o passado, contudo encontrar um novo sentido para ele.

Autodisrupção pessoal

Mas este conceito não se aplica só a empresas não. A Phoebe Zhang chama de “dilema do inovador pessoal” a tentação de confiar que as mesmas habilidades que nos trouxeram até aqui vão nos levar adiante.

Uma frase dela ficou na minha cabeça: “Não conte que o que te trouxe até aqui vai te levar até lá.”

Traduzindo: aquilo que hoje te diferencia, não garante relevância amanhã. O caminho é experimentar algo novo, melhorar, otimizar — e depois começar tudo de novo.

No artigo, Phoebe descreve como ela própria teve que abandonar métricas que usava há anos porque não faziam mais sentido para startups de IA. O choque foi perceber que seu conhecimento sólido já não explicava o presente. E o único caminho foi reaprender.

Ela sugere algumas práticas concretas para não cair na armadilha da ficar parado:

  • 🛠️ Dedique tempo para usar uma ferramenta que você ainda não entende;

  • 🚀 Publique algo antes de se sentir totalmente pronto;

  • 👂 Pergunte a alguém mais jovem que ferramenta ou tendência você pode estar ignorando.

E reforça que, mesmo que pareça ineficiente ou até embaraçoso, esse desconforto é o sinal de que você está crescendo.

Mais do que isto, Phoebe destaca três habilidades fundamentais para o futuro:

  1. Saber aprender — não parar de estudar novas ferramentas e métodos;

  2. Pensar criticamente — questionar se as métricas e estruturas antigas ainda servem;

  3. Criar de forma criativa — usar tecnologia como alavanca para inventar algo novo, não só para repetir o que já existe.

Por que isto fala comigo?

Depois de mais de 20 anos como professora de inglês, decidi mudar tudo e ensinar empreendedorismo. Foi desconfortável, porém é justamente este desconforto que me mantém aprendendo.

Escrever esta newsletter também faz parte deste processo: um jeito de registrar, refletir e compartilhar o meu próprio ciclo de autodisrupção e aprendizagem, junto com vocês. espero que você continue me seguindo nesta jornada.

Nos vemos em duas semanas,

Prof. Clara!

🏫 Como usar isto na sala de aula

Uma vez ouvi de um adolescente que não aguentava mais ouvir lição de moral — até do livro de inglês da escola quer ensinar o adolescente como ser adulto. É por isto que falar de empresas funciona melhor: muda o foco, tira o sermão e traz conceitos que eles realmente precisam conhecer. Especialmente no último ano do ensino médio, quando estão se reinventando para escolher os próximos passos.

O que fiz foi simples: levei os logos de empresas que já foram gigantes e perderam mercado — Blockbuster, Nokia, Kodak, Atari, Yahoo e Orkut. Cada aluno escolheu uma mesa de acordo com a empresa que queria pesquisar. Isto já quebrou o padrão: eles não ficaram só com os mesmos amigos.

Cada grupo pesquisou o que a empresa fazia, por que foi grande e o que a levou a cair. Depois, apresentaram para a turma. A pergunta central foi: “O que fez uma empresa tão grande cair?” — sem moralismo, só análise.

No fim, entreguei o texto da Phoebe Zhang e pedi: “O que faria você mesmo perder a liderança no futuro?” A transição ficou natural: da análise das empresas para a reflexão pessoal.

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