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Lição #14 – Tempo livre, mente cheia: o hobby como ensaio para empreender

Nesta edição: exploramos como hobbies — especialmente os redescobertos pela Geração Z — podem fortalecer a criatividade, a saúde mental e habilidades empreendedoras. Tempo de leitura: 7 minutos

Olá, meu nome é Clara e, por algumas reviravoltas inesperadas do destino, hoje eu sou professora de estratégias de negócios, marketing e empreendedorismo para alunos do ensino médio.

É engraçado olhar para trás e pensar que eu tinha tudo para chegar até aqui desde cedo, mas acabei seguindo um caminho um pouco não convencional.

Nesta newsletter, eu vou dividir com vocês o que eu venho aprendendo sobre negócios para poder ensinar os meus alunos de uma forma que traga interesse e aprendizado real.

Neste momento da minha vida, o meu interesse por empreendedorismo não vem de uma vontade pessoal de me tornar CEO da minha própria empresa, mas sim de uma curiosidade em compreender conceitos e mudanças de mercado para poder ensinar algo realmente relevante para meus alunos.

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📩 Lição #14 – Tempo livre, mente cheia: o hobby como ensaio para empreender

Fun Cooking GIF by Lobster Studio

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🧭 Nesta edição:
Por que fazer algo sem propósito pode, paradoxalmente, nos tornar mais criativos, resilientes e inovadores. Vamos falar sobre o retorno dos hobbies, o impacto disso na saúde mental e no trabalho, o papel do TikTok nesse movimento e o que isso tem a ver com formar empreendedores — dentro ou fora da escola.

  1. Quando ninguém está olhando- Como redescobrir seu hobby nas férias pode te reconectar com criatividade e propósito.

  2. Por que isso importa? - Hobbies impulsionam criatividade, inovação, bem-estar e habilidades empreendedoras.

  3. Os hobbies voltaram — e o TikTok ajudou - Geração Z está resgatando hobbies manuais como forma de autenticidade e desaceleração.

  4. Geração Z e o feed padronizado - Como os algoritmos tornaram os jovens parecidos e como o hobby pode ser um diferencial.

  5. Conclusão — Hobbies, Geração Z e o espírito empreendedor - Só para terminar…

  6. Como usar em sala de aula? - Uma atividades da Babson College para despertar criatividade, observação e reflexão nos alunos.

1. Quando ninguém está olhando

As férias são, talvez, a parte mais bonita da vida de uma professora. Não só pelo descanso merecido, como também porque é tempo para fazer o que a gente realmente gosta — sem objetivo, sem plateia.

Por aqui, meu hobby de férias é me perder por aí, com prazer. Percorrendo ruas de Santos, onde vi empreendedores fazendo o trivial de forma diferente (vocês conhecem o restaurante Paru dentro do mercado de peixes?); e de Itu, Itu, mais conhecida pelos exageros turísticos do que por paisagens naturais, mas encontrei algo surpreendente: o Parque Geológico do Varvito — um pedaço da Era Glacial tão perto de São Paulo. Essas descobertas têm nome: hobby. E estão voltando como refúgio real — fazer algo só por fazer.

Parque Geológico do Varvito em Itú.

Será que a gente ainda sabe o que isso significa?

2. Por que isso importa?

Hobbies não são luxo. São respiro — e terreno fértil para criatividade, inovação e bem-estar.

🧠 Criatividade e desempenho no trabalho
Um estudo publicado pela Harvard Business Review mostrou que cultivar paixões fora do ambiente profissional — como escrever, fazer música, cozinhar ou praticar esportes — pode impulsionar significativamente o desempenho no trabalho. Isso acontece porque esses hobbies desenvolvem competências como resolução de problemas, colaboração, empatia e adaptabilidade.

Ao praticar algo pelo simples prazer de aprender e criar, profissionais voltam ao trabalho mais energizados, confiantes e criativos — prontos para contribuir de forma mais inovadora com suas equipes.

🧩 Inovação informal
De hobby a startup: segundo a Harvard Business Review, muitas pessoas transformaram suas paixões em negócios reais — sem planejamento inicial e sem esperar que suas atividades de lazer se tornassem empresas. O artigo mostra como projetos pessoais nascem de tentativas, experimentações e mesmo falhas sob um olhar criativo, fora da lógica corporativa.

Essas iniciativas demonstram que hobbies servem como campo de testes: quando a curiosidade, a prática e a vontade de aprender se juntam, surge espaço para a inovação florescer.

💪 Saúde mental e resiliência
A pesquisa Leisure Crafting, ou Artesanato do Lazer em português(HBR, 2025) apontou que pessoas que estruturam bem seu tempo livre reportam mais energia, engajamento e desempenho. Fazer algo por prazer ajuda a lidar melhor com pressão, incerteza e fadiga cognitiva.
🔗 Leia o estudo completo

🧶 Habilidades empreendedoras

Esse artigo da BBC Worklife aponta como a cultura do “mais, sempre mais” vem perdendo apelo especialmente entre jovens e profissionais que priorizam equilíbrio. Em vez de glorificar o estresse, muitos têm buscado tempo para hobbies e pausas criativas como forma de recuperar energia e manter clareza mental.

Esses momentos offline ajudam a desenvolver competências chave para empreendedores: foco, paciência, empatia e tolerância ao erro. Porque habilidade empreendedora não é sinônimo de sobrecarga, mas de presença, experimentação e vontade de aprender.

“Algumas pessoas estão repensando o trabalho: largam ambientes tóxicos, desaceleram e esculpem mais tempo para a vida pessoal e hobbies.”

Megan Carnegie, sobre o declínio da cultura hustle na BBC Worklife 

3. Os hobbies voltaram — e o TikTok ajudou

Costura, tricô, jardinagem, ou bordado. Atividades antes associadas a avós estão renascendo entre os jovens — impulsionadas, em parte, pelo TikTok.

📊 Segundo o Axios, publicações com a hashtag #needlepoint (bordado, em português) cresceu 400% nos primeiros 10 meses de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023.

🧶 Já o Wall Street Journal trouxe uma reportagem mostrando que muitos jovens na faixa dos 20 anos estão adotando hobbies “de vó” — como crochê e tricô — não por nostalgia, mas como resposta consciente à cultura ultra produtiva: eles buscam o prazer da manualidade e a presença do real fora da lógica digital.
🔗 Leia no WSJ

Parece que os jovens estão trocando uma noite de balada por fiar em casa fazendo crochê, como diz este video da NBC News:

4. Geração Z e o feed padronizado

A Geração Z vive num algoritmo que repete: mesmos filtros ou vídeos, mesmo comportamento. O resultado? Ausência de singularidade.

📊 Segundo reportagem da Vox Media, os Gen Z estão rejeitando rótulos prontos e optando por expressar quem são a partir de múltiplos interesses e criações próprias — incluindo hobbies. Ao invés de seguir uma identidade pré-definida, eles moldam a própria narrativa por meio da experimentação e da expressão individual. Ainda assim, mesmo essa construção pode ser influenciada por tendências digitais, criando um paradoxo: a busca por originalidade frequentemente passa pelos mesmos caminhos algorítmicos.

🎥 Katie Robinson, no video abaixo, fala um pouco mais sobre hobbies serem a nova commodity:

“A pressão para parecer interessante transformou hobbies em acessórios de identidade — como chaveiros pendurados na mochila.”
“No momento em que começamos a tratar nossos hobbies como trabalhos ou audições, deixamos de receber os benefícios que estávamos buscando.”

Se o hobby vira performance, deixa de ser refúgio e passa a ser obrigação.
E quando tudo é público, a mente deixa de vaguear.

🧭 Conclusão — Hobbies, Geração Z e o espírito empreendedor

Mais do que passatempo, hobbies são laboratórios silenciosos. Neles, desenvolvemos habilidades valiosas para a vida e para o trabalho: foco, criatividade, paciência, improviso, tolerância ao erro — todas fundamentais para quem quer empreender, inovar ou simplesmente viver com mais autenticidade.

A Geração Z, marcada por propósito, urgência e alta exposição, tem buscado refúgios fora do feed. Mas o desafio está justamente aí: como cultivar um hobby sem transformá-lo em mais um projeto para mostrar?

É nessa brecha que mora o verdadeiro valor. Fazer algo só por prazer, sem audiência nem utilidade imediata, é também um ato de resistência. E talvez, o melhor ensaio para o empreendedorismo: porque ideias inovadoras raramente nascem da cobrança — elas florescem no espaço livre da curiosidade e da experimentação.

Que tal (re)começar por aí?

📬 Nos vemos em duas semanas
E se esta edição te fez pensar em alguém, manda para essa pessoa — hobby compartilhado é hobby dobrado. 😉

Até logo,
Prof. Clara

🧪 Como usar isso em sala de aula?

Uma atividade simples da Babson College para despertar criatividade e percepção nos alunos:

👣 Awe Walk
Uma caminhada silenciosa como se tudo fosse novo. Repare nas cores, cheiros, sons e detalhes invisíveis no dia a dia.

Clique aqui para fazer o download da atividade completa.

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