- Presente?
- Posts
- Lição #8 - A curiosidade matou o gato
Lição #8 - A curiosidade matou o gato
A curiosidade é uma habilidade essencial para a aprendizagem, inovação e pensamento crítico — e pode (e deve) ser ensinada.Tempo de leitura: 7 minutos

Olá, meu nome é Clara e, por algumas reviravoltas inesperadas do destino, hoje eu sou professora de estratégias de negócios, marketing e empreendedorismo para alunos do ensino médio.
É engraçado olhar para trás e pensar que eu tinha tudo para chegar até aqui desde cedo, mas acabei seguindo um caminho um pouco não convencional.
Nesta newsletter, eu vou dividir com vocês o que eu venho aprendendo sobre negócios para poder ensinar os meus alunos de uma forma que traga interesse e aprendizado real.
Neste momento da minha vida, o meu interesse por empreendedorismo não vem de uma vontade pessoal de me tornar CEO da minha própria empresa, mas sim de uma curiosidade em compreender conceitos e mudanças de mercado para poder ensinar algo realmente relevante para meus alunos.
🙋♀️ Presente?
📩 Lição #8 – A curiosidade matou o gato
Recentemente, uma aluna comentou que não fez perguntas ao nosso convidado porque, segundo ela, "não gosto muito desse assunto". Respondi que não se trata apenas de gostar ou não, mas de estar aberta a aprender algo novo.
Isto me fez refletir: como professora, o que posso fazer para ensinar que não é responsabilidade dos outros (especialmente de um convidado) criar pontes entre um tema novo e o que já conhecemos e gostamos? O que significa dizer que não gostamos de algo que mal conhecemos e nem tentamos entender?
Essa pergunta ficou comigo até que assisti a este vídeo sobre como nossa forma de buscar informações mudou:
O vídeo fala como, hoje, cada vez mais buscamos respostas rápidas e únicas. No Google, somos apresentados a uma infinidade de links — blogs, artigos, vídeos, etc — e precisamos comparar e refletir sobre a responsta àquela pergunta. Porém, em plataformas como ChatGPT, Siri ou Alexa, recebemos uma única resposta, como se fosse a verdade absoluta.
Mas uma única resposta nunca é toda a verdade.
Como comentei na Lição #5, a Geração Z já não recorre mais ao Google como principal ferramenta de busca. Muitas vezes prefere o TikTok — mais direto, visual e rápido.
Como educadora e, especialmente em aulas de empreendedorismo, percebi que existe uma habilidade essencial que preciso cultivar em sala: a curiosidade.
🧠 O que é, afinal, ser uma pessoa curiosa?
Curiosidade é muito mais do que “ter interesse” por um tema. É uma disposição ativa para explorar o desconhecido, buscar explicações e conectar ideias. No artigo “Are You Curious? Predicting Human Curiosity from Facebook” (Você é curioso? Prevendo a curiosidade humana a partir do Facebook) , ela é definida como
“o desejo por novo conhecimento ou novas experiências”
Um impulso cognitivo que influencia como aprendemos, criamos e nos relacionamos. Ou seja, a curiosidade estaria ligada a nossa habilidade de querer saber sobre coisas que não conhecemos.
Mas ai eu vi esse video que fala sobre curiosidade vai além disso. Ela é o que nos leva a utrapassar o que é isso, e seguir pesquisando para saber o porquê disso, e por isso a curiosidade seria a base da inovação.
A psicologia contemporânea trata a curiosidade como um traço de personalidade multifacetado. Um dos modelos mais citados é o proposto por Ian Leslie, autor do livro Curious: The Desire to Know and Why Your Future Depends on It (Curioso) que identifica três tipos distintos de curiosidade:
Curiosidade diversiva: voltada à novidade imediata, ao estímulo rápido e superficial. É o que nos faz rolar o feed sem parar ou clicar em manchetes chamativas. Essa curiosidade pode ser passageira, mas é importante para iniciar processos de descoberta.
Curiosidade epistêmica: mais profunda e sustentada. Envolve o desejo genuíno de entender um tema com complexidade, mesmo que isto exija esforço, tempo e atenção. É a base para a aprendizagem significativa, o pensamento crítico e a inovação.
Curiosidade empática: manifesta-se quando buscamos compreender melhor o outro — suas ideias, sentimentos e perspectivas. Esse tipo é essencial em contextos colaborativos e na formação de líderes, educadores e empreendedores, usando a escuta ativa e a sensibilidade.
Essas três dimensões não competem entre si — elas se complementam. A curiosidade diversiva pode ser a porta de entrada, despertando o interesse inicial. A epistêmica sustenta o aprofundamento. E a empática cria pontes entre pessoas e visões de mundo. Entender esses tipos ajuda a reconhecer como nossa curiosidade se manifesta — e como podemos cultivá-la em nós mesmos e nos outros.
Ou, como diria Ted Lasso, uma pessoa curiosa é aquela que faz perguntas.
💼 Curiosidade no mundo dos negócios
Em um famoso artigo da Harvard Business Review, The Business Case for Curiosity, os autores mostram que equipes curiosas inovam mais, têm menos conflitos e melhores resultados. Um exemplo do texto é de como, Empresas como o Google, valorizam tanto essa habilidade que testam isso nas entrevistas com perguntas como:
“Você já se viu incapaz de parar de aprender algo que nunca tinha visto antes? Por quê?”
Essa pergunta revela o tipo de motivação por trás do aprendizado — se é apenas uma tarefa, ou um desejo autêntico de saber.
Curiosidade, nesse caso, não é apenas uma qualidade pessoal. É uma competência estratégica.
🔍 Exercício: Siga a Centelha da Curiosidade
Você se considera uma pessoa curiosa? Vamos testar isso juntos? A proposta é explorar um tema qualquer e ver onde sua curiosidade pode te levar. Essa atividade foi inspirada neste texto aqui.
✨ Mas hoje, quem escolhe o tema sou eu. Aqui está sua centelha:
Agora siga os passos:
O que você já sabe sobre esse tema?
(Vale escrever ou só pensar mesmo.)Qual a pergunta mais estranha ou específica que você poderia fazer sobre isso?
(Ex: Isso tem base científica? Já aconteceu comigo? Como isso afeta decisões de consumo?)Onde isso se conecta com outra coisa que você gosta ou conhece?
(Talvez com comportamento do consumidor, atenção seletiva, redes sociais?)O que você descobriu de novo ao fazer isso?
(Siga 2 ou 3 links. Leia um artigo. Veja um vídeo. E anote algo surpreendente.)
✨ Esse é o caminho da curiosidade: ele nem sempre leva a uma resposta imediata, mas quase sempre leva a ideias novas, boas conversas e aprendizados inesperados.
🔁 Se quiser me contar o que encontrou, responde este e-mail. Quem sabe isso vira tema da próxima newsletter?
🐱 Curiosidade matou o gato?
Para terminar, se quiser entender o título da edição:
👉 Assista aqui
Até daqui duas semanas,
Clara
Você já assina essa newsletter?
🎒 Como usar isso em sala de aula
Nem todo aluno se sente confortável fazendo perguntas. Porém a curiosidade pode (e deve) ser incentivada com prática.
Em um dos meus projetos, os alunos criam um podcast sobre liderança. Antes disto, eles precisam praticar entrevistas. Então convido alguns pais para participarem de uma roda de conversa. Todos os alunos devem fazer ao menos uma pergunta — vale nota.
As instruções são:
Faça perguntas inesperadas, que surpreendam o convidado.
Conecte sua pergunta à fala de outro aluno ou faça conexões entre as falas dos convidados.
Faça perguntas que você realmente quer saber a resposta, não aquelas batidas que todo mundo já sabe.
Ou faça uma pergunta que inspire mais perguntas.
Enquanto eles perguntam, eu fico em silêncio, anotando tudo e criando um mapa da conversa, para discutirmos como podemos melhorar para a entrevista.
👉 Leia sobre como usar mapas de discussão
Reply