• Presente?
  • Posts
  • Lição #10 – Aprender é transformar dúvida em direção

Lição #10 – Aprender é transformar dúvida em direção

Um olhar para trás e como observar, experimentar e conectar se tornaram os pilares do processo dessa newsletterTempo de leitura: 7 minutos

Olá, meu nome é Clara e, por algumas reviravoltas inesperadas do destino, hoje eu sou professora de estratégias de negócios, marketing e empreendedorismo para alunos do ensino médio.

É engraçado olhar para trás e pensar que eu tinha tudo para chegar até aqui desde cedo, mas acabei seguindo um caminho um pouco não convencional.

Nesta newsletter, eu vou dividir com vocês o que eu venho aprendendo sobre negócios para poder ensinar os meus alunos de uma forma que traga interesse e aprendizado real.

Neste momento da minha vida, o meu interesse por empreendedorismo não vem de uma vontade pessoal de me tornar CEO da minha própria empresa, mas sim de uma curiosidade em compreender conceitos e mudanças de mercado para poder ensinar algo realmente relevante para meus alunos.

🙋‍♀️ Presente?

Lição #10 – Aprender é transformar dúvida em direção

Esta edição é diferente.
Não tem um tema novo — tem um olhar para trás.
É uma pausa para entender o que eu aprendi escrevendo estas 9 lições, o que me conectou com quem leu e o que isso tudo tem a ver com ensinar, empreender e viver com mais intenção.

Olá leitor!
Quando comecei essa newsletter, minha ideia era compartilhar o que eu vinha aprendendo como professora de empreendedorismo, marketing e estratégias de negócio. Mas, ao reler cada edição, percebi que este projeto se tornou muito mais do que isso: foi um jeito de olhar para o mundo com mais atenção, levantar hipóteses, fazer perguntas melhores e descobrir, aos poucos, o que vale a pena ensinar (e aprender).

⁉️ Primeiro veio a pergunta

🔍 De onde vêm as ideias?

Uma de minhas alunas, certa vez, disse-me que não fez perguntas para um convidado, porque “não gostava do assunto.”

Aquilo me deixou pensando por dias:

Como é que a gente aprende a gostar de algo que ainda não entende?

De onde vem a vontade de seguir uma dúvida até ela virar ideia — ou crença?

A resposta curta seria: da curiosidade. Mas a real é que ideias costumam nascer do desconforto.

Essa newsletter, por exemplo, começou assim. Não como um projeto claro, mas como um incômodo:

✨ Por que algumas aulas engajam e outras não?
✨ Por que certos projetos viram conversa de corredor e outros morrem na entrega?
✨ E, mais importante: como ensinar temas como inovação, estratégia e empreendedorismo nos dias atuais, em que tudo muda tão rápido?

📚 Foi nesse espírito que redescobri Charles Sanders Peirce — não o da semiótica da minha época na linguística, mas o Peirce pragmatista, o que via o pensamento como um processo contínuo de investigação.

Para ele, o conhecimento não nasce da certeza, contudo da dúvida real — aquela que incomoda e exige resposta, pois está atravessando a prática.

💡 Peirce não via a dúvida como falha de raciocínio — ao contrário:
ela é um estado de inquietação legítima, que nos tira da inércia.

🔍 Diferente da dúvida cartesiana - "duvide de tudo para encontrar certezas" - a dúvida, para Peirce, é incômoda, prática e inevitável. É aquela que atravessa nosso cotidiano e nos obriga a buscar um estado mais confortável do saber. Um estado em que eu acredito que sei.

🌀 O saber é o acreditar no que eu sei.

Mas… o que é crença, afinal?

Para Charles Peirce, crença é aquilo que nos orienta na ação.
Não é apenas “achar que algo é verdade”
👉 É agir como se fosse.

A crença vem depois da dúvida.
Ela nos permite tomar decisões, experimentar, ajustar o caminho.
Mesmo sem garantias, ela funciona como um primeiro rascunho de convicção.

Só lembrando que:
✳️ Crença não é verdade.
É apenas aquilo que, por ora, acreditamos ser verdade.
E é só testando, debatendo e duvidando de novo que seguimos refinando o que pensamos saber.

Porque, no fundo, conhecimento não é ponto de chegada.
🔁 É um processo sem fim.

💡 É por isso que, no fim das contas:
🔧 Ideia boa é a que muda comportamento.
Se não provoca ação, não passou de hipótese.

💼 E aqui a filosofia encontra os negócios:

Uma hipótese de mercado, um modelo de negócio, ou um novo posicionamento de marca — nada disto tem valor só porque parece uma boa ideia.

Como diz Steve Blank:

"Nenhum plano de negócios sobrevive ao primeiro contato com o cliente." 📍 No Plan Survives First Contact With Customers – Business Plans versus Business Models

O que ele quer dizer com isso?

Que uma boa ideia não basta. É preciso colocar a hipótese em campo, observar como ela se comporta diante da realidade — das perguntas que o cliente faz, das objeções que ele levanta, das decisões que ele toma.

💥 O valor está no processo: no teste, no erro, na escuta ativa e nos ajustes que surgem ao longo do caminho.

É aí que a inovação acontece de verdade — quando deixamos de proteger nossas ideias e começamos a aprender com elas.

Mas… o que nos leva a testar?
O que nos move a sair da teoria e colocar uma ideia no mundo?

📹️ Como explica Jéssica Lays neste vídeo, o filósofo Charles Peirce via a abdução como o caminho para gerar novas ideias. É quando você se depara com algo inesperado e se pergunta, com honestidade:

“O que pode estar acontecendo aqui?”

A abdução não é prever o futuro nem tirar conclusões com base em dados já conhecidos.
É diferente da dedução (que parte de regras) e da indução (que parte de padrões).
Na abdução, você parte de um incômodo real — de algo que não faz sentido — e tenta formular a explicação mais plausível naquele momento.

“Conhecer é o mesmo que crer.
E a crença não nasce da certeza —
mas da tentativa de sair de um estado de dúvida incômodo, insatisfatório.”

E esse incômodo, essa dúvida, esses questionamentos — são o ponto de partida da criatividade, da inovação e da disrupção.

📚 Clayton Christensen, do clássico The Innovator’s Dilemma, explica que ideias realmente novas costumam parecer ruins no começo — justamente porque rompem com a lógica vigente:

“Uma inovação disruptiva transforma um produto que historicamente era tão caro e complicado que só poucas pessoas com muito dinheiro e muita habilidade tinham acesso. Ela o torna tão mais acessível e barato que um número muito maior de pessoas pode usá-lo.”

Disrupções não nascem de grandes certezas.

Elas nascem do desconforto.
Do que não encaixa.
Do que precisa ser explicado de outro jeito.

De perguntas, não de respostas.

Porque, no fim, nada do que está aqui é realmente novo.

O que é novo é o esforço de manter a dúvida viva —
e continuar criando, mesmo quando ainda não temos certeza.

✍️ O que eu percebi escrevendo as 9 edições

Aos poucos, entendi que cada edição foi uma tentativa de investigar uma dúvida real — daquelas que cutucam, incomodam e não saem da cabeça.

E foram mais ou menos assim:

🙋‍♀️ Por que a gente ainda divide o mercado infantil em “coisa de menino” e “coisa de menina” — se ninguém mais vive em caixinha? (Lição 3)
🙋‍♀️Quando foi que a gente começou a confiar mais no TikTok do que no Google para aprender alguma coisa? (Lição 5)
🙋‍♀️O que faz alguém ter coragem de errar na frente dos outros — e por que isso aproxima mais do que qualquer acerto? (Lição 4)
🙋‍♀️Por que dizemos que usamos IA… mas não gostamos de admitir? E o que isso diz sobre como nos vemos? (Lição 2)
🙋‍♀️Se trabalhar em grupo é sempre mais difícil, por que (ainda assim) os melhores projetos nascem dos times certos? (Lição 9)

Essas perguntas me empurraram pra frente. Obrigaram-me a buscar, escrever, conversar assim como mudar de ideia. E foi aí que entendi: escrever essa newsletter não foi só dividir conteúdo — foi o meu jeito de aprender em voz alta.

🔁 O que as lições têm em comum?

Revisitando todas elas, organizei as 9 lições em três verbos que se repetem:

🧠 Observar
O que está diante de mim que talvez eu não esteja enxergando?
(Lição 1, Lição 3, Lição 5)

🎯 Experimentar
Como eu posso testar isso? O que acontece se eu fizer diferente?
(Lição 2, Lição 4, Lição 6)

🤝 Conectar
Quem está comigo nisso? O que aprendemos juntos?
(Lição 7, Lição 8, Lição 9)

Esses três verbos resumem o processo de abdução e também o que eu mais valorizo como professora e aprendiz.

E talvez seja isto que essa newsletter virou: um espaço no qual se aprende observando com intenção, testando hipóteses e conectando ideias às pessoas.

📚 Perdeu alguma lição?

Aqui estão as anteriores:

💬 Para terminar…

Se você leu alguma dessas lições, pensou em algo, salvou um parágrafo ou mandou para alguém: obrigada.
Se quiser me contar qual lhe marcou mais — ou o que aprendeu nesse processo — escreva-me.
Pode ser o começo da próxima investigação.

📥 Até a próxima,
Prof. Clara

Você já assina essa neewsletter? Não?

🧠 Como usar isso em sala de aula

No projeto BYOB – Build Your Own Business, os alunos criaram e venderam um produto real dentro da escola. Porém havia um detalhe importante:
Eles não podiam usar redes sociais.
Isto os obrigou a entender um público fora da sua bolha — no caso, os professores.

Foi um desafio.

Muita gente me procurou durante o processo para dizer que os alunos estavam fazendo tudo errado:
📌 o cartaz não era claro,
📌 o produto não estava bem explicado,
📌 estavam entrando em sala de aula sem avisar.

Mas a intenção era justamente esta:
criar um ambiente seguro para errar em público — algo que quase nunca acontece na escola.
Porque mais importante do que acertar de primeira é aprender a observar, testar e ajustar.

O foco do projeto não era vender mais.
Era refletir sobre o que deu certo e o que poderia ser melhor.

No fim, o que avaliamos foram perguntas como:

➡️ O que você aprendeu sobre vender para esse público (de professores)?
➡️ O que foi mais difícil do que você imaginava — e por quê?
➡️ Em que momento você percebeu que precisava mudar de abordagem?
➡️ Se tivesse que refazer esse projeto, o que faria diferente? Por quê?
➡️ Qual foi seu maior erro — e o que ele te ensinou sobre empreender?

Estas perguntas fazem parte do que o Project Zero, da Universidade de Harvard, chama de
🧠 Making Thinking Visible — tornar o pensamento visível.
Criar tempo e espaço para o aluno refletir sobre como pensou, não só sobre o que fez.

Reply

or to participate.